domingo, 29 de junho de 2014

O PROFESSOR DO AEE E A QUEBRA DE MODELOS



 

 



*Áurea Lanne Batista de Azevedo França

Toda pessoa nasce única. Traz consigo particularidades que, em muitos casos, não são percebidas, aceitas ou compreendidas de imediato. Para que se possa aceitar e compreender as pessoas do jeito que elas são, se faz necessário deixar de lado tudo aquilo que idealizamos sobre ela. Abrir mão do “modelo”. Transpor os meus ideais para além do que posso visualizar, e assim, descobrir o potencial de cada um. Tais particularidades, por muitas vezes, só serão percebidas ou priorizadas nos ambientes de aprendizagem, e, de modo bem específico no ambiente escolar. É nesse espaço, onde todos os dias, colocamos em evidência todo nosso potencial e também nossas limitações. As atividades desenvolvidas no contexto escolar, o convívio com colegas e professores, a necessidade de  desenvolver e aperfeiçoar constantemente a capacidade de memorização, abstração e raciocínio lógico, dentre outras, requer de cada um habilidades motoras, cognitivas e sensoriais. Sendo assim, e diante do advento da inclusão das pessoas com deficiência nas escolas regulares, cumprindo o disposto na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva(2010), que garante a matrícula e permanência desses alunos nas salas de aulas regulares. Se faz necessário então, um repensar sobre a prática pedagógica desenvolvida nessas salas de aula. É preciso a partir de então agir como o senhor Palomar, citado por Calvino em seu texto “O modelo dos modelos”: desconstruir o modelo perfeito e idealizado, e perceber que existem modelos diversos, transformáveis, distintos e capazes de adaptar-se ás mais diversas realidades.
            É a partir dessa constatação, que se fundamenta o trabalho do Atendimento Educacional Especializado – AEE -  configurando-se como sendo um serviço da educação especial que “complementa e/ou suplementa a formação do aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela”(MEC, 2010). Para garantir essa complementação e/ou suplementação na formação do aluno, o professor que atua no AEE identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras encontradas por esses alunos em seu processo de aprendizagem, considerando suas necessidades específicas(MEC, 2010). Visto que a organização do Atendimento Educacional Especializado considera as peculiaridades de cada aluno, o professor do AEE deve ter consciência da subjetividade desse aluno bem como  da abrangência do seu trabalho. Deve em seu planejamento, levar em consideração as potencialidades de cada  individuo, considerando sua condição física, sensorial ou psíquica, mas sem priorizar sua deficiência, pois como bem afirma Ropoli (2010, p 22)“o primeiro passo para se planejar o atendimento não é saber as causas, diagnósticos, prognósticos da suposta deficiência do aluno. Antes da deficiência, vem a pessoa, o aluno, com sua história de vida, sua individualidade, seus desejos e diferenças”.
Portanto, é possível concluir que, para cumprir um papel que é tão específico e fundamental  na efetivação de uma política de inclusão voltada para o acesso e permanência dos alunos com deficiência no contexto escolar e, sendo essa permanência acompanhada por resultados significativos, o professor do AEE necessita obter conhecimentos específicos nessa área. Porém, além do conhecimento, é preciso que ele tenha a capacidade de ampliar sua visão para além do sujeito, para além da deficiência, para além da idealização dos seus modelos. É preciso que ele seja capaz de inovar-se a cada dia, rompendo com velhos conceitos e atitudes já enraizadas no contexto educacional. Mas, não só o professor do AEE precisa desse suporte e dessa mudança, é preciso que as mudanças aconteçam também na sala de aula, a partir da mudança nas práticas adotadas pela maioria dos professores, que ainda favorecem á um determinado modelo de aluno.


REFERÊNCIAS

Ropoli, E. A. et. al. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão
Escolar: A Escola Comum Inclusiva. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará,
2010. 48p.


Nenhum comentário:

Postar um comentário